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terça-feira, 19 de julho de 2011

Questões de vestibulares

Questões da UFRJ

TEXTO I

Na contramão dos carros ela vem pela calçada, solar e musical, pára diante de um pequeno jardim, uma folhagem, na entrada de um prédio, colhe uma flor inesperada, inspira e ri, é a própria felicidade – passando a cem por hora pela janela. Ainda tento vê-la no espelho, mas é tarde, o eterno relance. Sua imagem quase embriaga, chego no trabalho e hesito, por que não posso conhecer aquilo? – a plenitude, o perfume inusitado no meio do asfalto, oculto e óbvio. Sempre minha cena favorita. Ela chegaria trazendo esquecimentos, a flor no cabelo. Eu estaria à espera, no jardim. E haveria tempo.

(CASTRO, Jorge Viveiros de. De todas as únicas maneiras & outras.

Rio de Janeiro: 7Letras, 2002. p.113)

QUESTÃO 1

Ao longo do texto I, utilizam-se dois tempos verbais. Identifique-os e justifique o emprego de cada um, considerando a experiência narrada no texto.

TEXTO II

A produção cultural do corpo

Pensar o corpo como algo produzido na e pela cultura é, simultaneamente, um desafio e uma necessidade. Um desafio porque rompe, de certa forma, com o olhar naturalista sobre o qual muitas vezes o corpo é observado, explicado, classificado e tratado. Uma necessidade porque ao desnaturalizá-lo revela, sobretudo, que o corpo é histórico. Isto é, mais do que um dado natural cuja materialidade nos presentifica no mundo, o corpo é uma construção sobre a qual são conferidas diferentes marcas em diferentes tempos, espaços, conjunturas econômicas, grupos sociais, étnicos, etc. Não é portanto algo dado a priori nem mesmo é universal: o corpo é provisório, mutável e mutante, suscetível a inúmeras intervenções consoante o desenvolvimento científico e tecnológico de cada cultura bem como suas leis, seus códigos morais, as representações que cria sobre os corpos, os discursos que sobre ele produz e reproduz.

Um corpo não é apenas um corpo. É também o seu entorno. Mais do que um conjunto de músculos, ossos, vísceras, reflexos e sensações, o corpo é também a roupa e os acessórios que o adornam, as intervenções que nele se operam, a imagem que dele se produz, as máquinas que nele se acoplam, os sentidos que nele se incorporam, os silêncios que por ele falam, os vestígios que nele se exibem, a educação de seus gestos... enfim, é um sem limite de possibilidades sempre reinventadas e a serem descobertas. Não são, portanto, as semelhanças biológicas que o definem mas, fundamentalmente, os significados culturais e sociais que a ele se atribuem.

(GOELLNER, Silvana Vilodre. A produção cultural do corpo. In: LOURO, Guacira Lopes (org.) Corpo, gênero e sexualidade; um debate contemporâneo na educação. Petrópolis: Vozes, 2003. p.28-29

TEXTO III

A não-aceitação

Desde que começou a envelhecer realmente começou a querer ficar em casa. Parece-me que achava feio passear quando não se era mais jovem: o ar tão limpo, o corpo sujo de gordura e rugas. Sobretudo a claridade do mar como desnuda. Não era para os outros que era feio ela passear, todos admitem que os outros sejam velhos. Mas para si mesma. Que ânsia, que cuidado com o corpo perdido, o espírito aflito nos olhos, ah, mas as pupilas essas límpidas. Outra coisa: antigamente no seu rosto não se via o que ela pensava, era só aquela face destacada, em oferta.

Agora, quando se vê sem querer ao espelho, quase grita horrorizada: mas eu não estava pensando nisso! Embora fosse impossível e inútil dizer em que rosto parecia pensar, e também impossível e inútil dizer no que ela mesma pensava. Ao redor as coisas frescas, uma história para a frente, e o vento, o vento... Enquanto seu ventre crescia e as pernas engrossavam, e os cabelos se haviam acomodado num penteado natural e modesto que se formara sozinho.

(LISPECTOR, Clarice. A descoberta

do mundo. Rio de Janeiro: Nova

Fronteira, 1984. p. 291)

QUESTÃO 2

a) Do primeiro parágrafo do texto II, retire os quatro adjetivos que melhor caracterizam a noção de corpo nele apresentada:

b) Estabeleça a relação entre esses adjetivos e a temática central do texto III.

TEXTO IV

Sem dúvida o meu aspecto era desagradável, inspirava repugnância. E a gente da casa se impacientava. Minha mãe tinha a franqueza de manifestar-me viva antipatia. Dava-me dois apelidos: bezerro-encourado e cabra-cega. Bezerro-encourado é um intruso. Quando uma cria morre, tiram-lhe o couro, vestem com ele um órfão, que, neste disfarce, é amamentado. A vaca sente o cheiro do filho, engana-se e adota o animal. Devo o apodo ao meu desarranjo, à feiúra, ao desengonço.

Não havia roupa que me assentasse no corpo: a camisa tufava na barriga, as mangas se encurtavam ou alongavam, o paletó se alargava nas costas, enchia se, como um balão. Na verdade o traje fora composto pela costureira módica, atarefada, pouco atenta às medidas. Todos os meninos, porém, usavam na vila fatiotas iguais, e conseguiam modificá-las, ajeitá-las.

Eu aparentava pendurar nos ombros um casaco alheio. Bezerro-encourado. Mas não me fazia tolerar. Essa injúria revelou muito cedo a minha condição na família: comparado ao bicho infeliz, considerei-me um pupilo enfadonho, aceito a custo. Zanguei-me, permanecendo exteriormente calmo, depois serenei. Ninguém tinha culpa do meu desalinho, daqueles modos horríveis de cambembe. Censurando-me a inferioridade, talvez quisessem corrigir-me.

(RAMOS, Graciliano. Infância.

Rio de Janeiro: Record, 2003. p. 144)

QUESTÃO 3

Os vocábulos desagradável, desarranjo, desengonço, utilizados no texto III, apresentam um elemento morfológico comum quanto ao processo de formação de palavras.

a) Identifique e classifique esse elemento

b) Explicite a relação entre o significado desse elemento e a caracterização física do narrador.

Questões UERJ

Texto I

Autorretrato falado

Venho de um Cuiabá garimpo e de ruelas entortadas.

Meu pai teve uma venda de bananas no Beco da

Marinha, onde nasci.

Me criei no Pantanal de Corumbá, entre bichos do

chão, pessoas humildes, aves, árvores e rios.

Aprecio viver em lugares decadentes por gosto de

estar entre pedras e lagartos.

Fazer o desprezível ser prezado é coisa que me apraz.

Já publiquei 10 livros de poesia; ao publicá-los me

sinto como que desonrado e fujo para o

Pantanal onde sou abençoado a garças.

Me procurei a vida inteira e não me achei – pelo

que fui salvo.

Descobri que todos os caminhos levam à ignorância.

Não fui para a sarjeta porque herdei uma fazenda de

gado. Os bois me recriam.

Agora eu sou tão ocaso!

Estou na categoria de sofrer do moral, porque só

faço coisas inúteis.

No meu morrer tem uma dor de árvore.

MANOEL DE BARROS

Poesia completa. São Paulo: Leya, 2010

01) Já publiquei 10 livros de poesia; ao publicá-los me

sinto como que desonrado e fujo para o

Pantanal onde sou abençoado a garças.

A palavra “onde”, sublinhada acima, remete a um termo anteriormente expresso. Transcreva esse termo. Nomeie também a classe gramatical de “onde”, substitua-a por uma expressão equivalente e indique seu valor semântico.

Texto II

Maria Cora

Uma noite, voltando para casa, trazia tanto sono que não dei corda ao relógio. Pode ser também que a vista de uma senhora que encontrei em casa do comendador T. contribuísse para aquele esquecimento; mas estas duas razões destroem-se. Cogitação tira o sono e o sono impede a cogitação; só uma das causas devia ser verdadeira. Ponhamos que nenhuma, e fiquemos no principal, que é o relógio parado, de manhã, quando me levantei, ouvindo dez horas no relógio da casa.

Morava então (1893) em uma casa de pensão no Catete. Já por esse tempo este gênero de residência florescia no Rio de Janeiro. Aquela era pequena e tranqüila. Os quatrocentos contos de réis permitiam-me casa exclusiva e própria; mas, em primeiro lugar, já eu ali residia quando os adquiri, por jogo de praça; em segundo lugar, era um solteirão de quarenta anos, tão afeito à vida de hospedaria que me seria impossível morar só. Casar não era menos impossível. Não é que me faltassem noivas. Desde os fins de 1891 mais de uma dama, – e não das menos belas, – olhou para mim com olhos brandos e amigos. Uma das filhas do comendador tratava-me com particular atenção. A nenhuma dei corda; o celibato era a minha alma, a minha vocação, o meu costume, a minha única ventura. Amaria de empreitada e por desfastio. Uma ou duas aventuras por ano bastavam a um coração meio inclinado ao ocaso e à noite.

Talvez por isso dei alguma atenção à senhora que vi em casa do comendador, na véspera. Era uma criatura morena, robusta, vinte e oito a trinta anos, vestida de escuro; entrou às dez horas, acompanhada de uma tia velha. A recepção que lhe fizeram foi mais cerimoniosa que as outras; era a primeira vez que ali ia. Eu era a terceira. Perguntei se era viúva.

– Não; é casada.

– Com quem?

– Com um estancieiro do Rio Grande.

– Chama-se?

– Ele? Fonseca, ela Maria Cora.

– O marido não veio com ela?

– Está no Rio Grande.

Não soube mais nada; mas a figura da dama interessou-me pelas graças físicas, que eram o oposto do que poderiam sonhar poetas românticos e artistas seráficos. Conversei com ela alguns minutos, sobre cousas indiferentes, – mas suficientes para escutar-lhe a voz, que era musical, e saber que tinha opiniões republicanas. Vexou -me confessar que não as professava de espécie alguma; declarei-me vagamente pelo futuro do país. Quando ela falava, tinha um modo de umedecer os beiços, não sei se casual, mas gracioso e picante. Creio que, vistas assim ao pé, as feições não eram tão corretas como pareciam a distância, mas eram mais suas, mais originais

Machado de Assis

Relíquias de casa velha. rio de Janeiro: livraria Garnier, 1990

02) Observe as formas sublinhadas em:

Morava então (1893) em uma casa de pensão no Catete. Já por esse tempo este gênero de residência florescia no Rio de Janeiro. Aquela era pequena e tranqüila.

Esse,este e aquela são formas empregadas como recursos de coesão textual.

Indique a classe gramatical a que pertencem essas palavras e justifique a escolha de cada uma no trecho de acordo com a respectiva função textual.


Texto III

A máquina

Faltando somente um minuto para a hora marcada, às onze e cinqüenta e nove exatamente, Antônio entrou na máquina de sua própria morte, feita com suas próprias mãos, e todos os olhos, todos os ouvidos, todas as câmeras e todos os microfones do mundo apontaram para ele, um patrocínio Alisante Karina, ele vai morrer de amor por você. Se pudesse divulgar o que estava sentindo, sem trazer inquietação ao coração de Karina, talvez Antônio tivesse confessado ali mesmo, pro mundo todo ouvir, que estava com um medo desgraçado, sabe o verbo medo? Mas não parecia. Quem olhava para ele, ou seja, o mundo inteiro, não diria nunca que se tratava de um homem que sentia um frio no espinhaço. E foi então que deu a hora certinha que Antônio tinha marcado para partir, meio-dia em ponto, cinco, quatro, três, dois, um, Ave-Maria, e seu coração disse pra sua cabeça, vá, e sua cabeça disse pra sua coragem, vou, e sua coragem respondeu, vou nada, mas Antônio não ouviu. E quando as setecentas lâminas da máquina da morte botaram para funcionar, todas elas ao mesmo tempo, na maior ligeireza, o mundo todo que estava esperando para ver tripa de Antônio, sangue de Antônio, osso de Antônio virar pó, não viu foi coisa nenhuma. (Adriana Falcão A máquina. rio de Janeiro: objetiva, 1999).

03) No romance de Adriana Falcão, o narrador, dialogando com o leitor, faz a seguinte pergunta: “sabe o verbo medo?”

Na pergunta, o discurso do narrador provoca um estranhamento.

Explique por que ocorre o estranhamento e indique o sentido que ele produz no contexto

Questões UFF

Texto I

“Os estados de alma [de Pedro e Paulo] que daqui nasceram davam matéria a um capítulo especial, se eu não preferisse agora um salto, e ir a 1886. O salto é grande mas o tempo é um tecido invisível em que se pode bordar tudo, uma flor, um pássaro, uma dama, um castelo, um túmulo. Também se pode bordar nada. Nada em cima de invisível é a mais sutil obra deste mundo, e acaso do outro.”

O trecho acima pertence ao romance Esaú e Jacó, de Machado de Assis. Trata-se do capítulo XXII, intitulado significativamente “Agora um salto”, em que o narrador justifica não dar maiores detalhes sobre os estados de alma dos personagens, e dar um “salto” para mais adiante no tempo em que os eventos narrados ocorrem.

Abaixo, você encontra dois fragmentos que também se referem ao tempo.

Fragmento 1

“O tempo é minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente.”

Fragmento 2

“Os eventos literários podem ser narrados em uma seqüência mais cronológica, ou com flashbacks (retorno a eventos anteriores) ou flashforwards (avanço para eventos posteriores).”

01) Selecione um fragmento que tenha relação com o texto de Machado de Assis. Justifique sua escolha.

02) Seguem exemplos de inadequações em relação ao registro padrão da língua escrita, apontadas na reportagem da revista VEJA (“A riqueza da língua”) como entraves para o sucesso de profissionais de todas as áreas.

Texto II

Pecados da língua

Se ele dispor de tempo.

Ela ficou meia nervosa.

Segue anexo duas cópias do contrato.

Esse assunto é entre eu e ela.

Reescreva as frases no padrão culto, fazendo somente as alterações necessárias.

TEXTO III

Lugar sertão se divulga: é onde os pastos carecem de fechos; onde um pode torar dez, quinze léguas, sem topar com casa de morador; e onde criminoso vive seu cristo-jesus, arredado do arrocho de autoridade. O Urucuia vem dos montões oestes. Mas, hoje, na beira dele tudo dá – fazendões de fazendas, almargem de vargens de bom render, as vazantes; culturas que vão de mata em mata, madeiras de grossura, até ainda virgens dessas lá há. O gerais corre em volta. Esses gerais são sem tamanho. Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães é questão de opiniães... O sertão está em toda parte.

ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas.

TEXTO IV

Sertão é palavra nossa, não tem em língua estrangeira. Sertão é sertão. Há quem diga que venha de “dessertão”: miolo de nação onde o mato é grande e a população é pouca. O reverso da cidade, o avesso da civilização. “Nosso mar interior”, para o antropólogo Darcy Ribeiro, área vasta e seca que se estende pelas beiradas do Rio São Francisco, mas nunca encontra o oceano. O sertão de Minas é chamado de Campos Gerais – os gerais. Começam acima das cidades de Corinto e Curvelo e se alargam pelo noroeste até se molhar nas águas escuras do rio Carinhanha, até esbarrar nas serras de Goiás, até se debruçar sobre as terras da Bahia.

Revista Terra, 09/05, p. 34.

03) Os textos III e IV focalizam o sertão valendo-se de gêneros textuais diferentes. Apresente uma diferença de linguagem que caracteriza os gêneros dos textos V e VI, exemplificando-a com, pelo menos, uma passagem de cada texto.

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