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sábado, 9 de abril de 2011

Coesão e coerência

A palavra “texto” deriva do vocábulo latino textus, -i cujo significado básico é “tecido”. Como sabemos, o tecido é um conjunto de linhas que se ligam organizadamente, é um amarrado bem coeso entre elas. Trata-se de uma metáfora bem adequada àquilo que chamamos de texto. Este também é um emaranhado organizado, mas no lugar de linhas, temos palavras, frases, orações e ideias. Para que essa organização de fato ocorra, dois instrumentos mais do que necessários devem ser empregados. Trata-se das “irmãs” COESÃO e COERÊNCIA. A primeira trata da organização linguística do texto (uso de conectivos, emprego de termos sinônimos, pronomes, ligação entre parágrafos etc.). A segunda “irmã” é a responsável pelo nexo entre as ideias de um texto. O que está dito em um parágrafo ou em uma frase não pode cair em contradição com uma afirmação seguinte. Estes dois elementos são essenciais para que o “tecido de palavras” assim possa ser chamado.

Coesão:
Coesão textual são as conexões gramaticais existentes entre palavras, orações, frases, parágrafos e partes maiores de um texto que garantem sua conexão seqüencial atribuída de sentido e compreensão. A coesão se dá na retomada de uma palavra através de um substantivo, pronome, numeral, advérbio, adjetivo, etc, ou entre palavras partes maiores de um texto, como por exemplo, orações, frases, e parágrafos. Para isso, contribuem os conectivos. A coesão se apresenta sob diferentes aspectos que se dividem em processos gramaticais e processos semânticos. Tanto uma quanto outra se utilizam de material linguistico, com a diferença de que no processo gramatical a articulação desse material reflete na composição dos enunciados, das frases. No processo semântico, predomina o emprego de recursos vocabulares levando em conta seus significados.
COESÃO GRAMATICAL
OBS: Antes de desenvolvermos os tópicos seguintes cabe ressaltar que o emprego dos pronomes na coesão gramatical está relacionado a “retomada” (anáfora) ou “antecipação”
(catáfora) de termos aos quais esses pronomes estão se referindo. Essas relações serão exemplificadas oportunamente.
1) Pronomes pessoais:
EX: “Odeio os britânicos. Eles são uns idiotas” Frase de status de um perfil de orkut. (pronome do caso reto) Repare que o termo “eles” se refere a um substantivo que o antecede (britânicos) essa referência é anafórica.
EX: “ O termo “eles” se refere a um termo que o antecede” (pronome do caso oblíquo) O exemplo, retirado do texto acima, utiliza-se do termo pronome oblíquo referindo-se anaforicamente ao sujeito da primeira oração (“o termo”)
EX: “Ele é o super heroi mais famoso do mundo. Estamos falando do Super Homem!” Aqui, o pronome pessoal reto “Ele” refere-se agora não a um termo que o antecede, porém a um substantivo que lhe é posterior, no caso “Super-Homem”. Essa relação de referência é chamada de catáfora.
2)Pronomes possessivos
EX: “Eles pegam o jornal com seus diferentes temas (...) e aproximam o aluno da sua realidade.”
Relação anafórica.
3) Pronomes demonstrativos
Estes tipos de pronome, em enunciados orais, remetem a algum elemento do mundo concreto. No texto escrito, onde o entendimento tem que estar contido em seu contexto e não fora dele, o pronome demonstrativo é um mecanismo coesivo que faz referência a um substantivo que esteja ligado a ele.
EX: “A jogador que mais fez gol foi Luiz Fabiano. Este fez 15 gols em 12 jogos.” Relação anafórica. “Este”, pronome demonstrativo, está retomando “Luiz Fabiano”.
EX: “A Nação Brasileira precisa disto: educação pública de qualidade” Relação catafórica. O pronome “isto”, que está integrado à preposição “de”, antecede o termo a que se refere: “educação”.
4) Pronomes relativos
Geralmente introduzem uma oração subordinada. Nessa situação a relação sempre será de retomada, isto é, anafórica.
EX: “O livro ao qual me refiro é de excelente qualidade” “O qual”=”livro”
EX: “ A República(...) cujos princípios estão em fase de consolidação (...)” “cujos”= “República”
5) Advérbios
Ajudam o leitor a localização espacial e temporal do termo ao qual está se referindo.
EX: “ O parque não hospeda turistas. Uma boa dica é a Fazenda Santa Amélia, que fica a menos de 30 km dali.”
6) Ordenadores
Expressões que ajudam na organização das informações contindas no texto. EX: em resumo, por um lado, por outro lado, daí, para começar etc.
EX: “Se por um lado, o programa Fome Zero trouxe benefícios mais imediatos, por outro fez com que as famílias se acomodassem nas rendas concedidas por ele.”
7) Omissão estilística
Referente a ocultar certos vocábulos que são facilmente reconhecíveis pelo contexto textual ou extratextual. A esse recurso chamamos de elipse ou zeugma.
EX: “O rei da brincadeira – ê José / o rei da confusão – ê João/ Um trabalhava na feira – ê José / Outro na construção” Gilberto Gil, Domingo no parque.
A esse recurso de omissão chamamos de zeugma. Trata-se do ato de omitir um termo anteriormente citado. No exemplo, o termo “rei” é subentendido nos dois últimos versos e o verbo “trabalhava” é omitido no último verso.
A elipse é a omissão de termo que não foi citado em nenhuma parte de um texto, mas que pelo seu contexto de vocábulos selecionados ou mesmo pelo contexto extratextual deduz-se sem qualquer sombra de dúvidas.
EX: “Veio ao planeta com os auspícios de um cometa, / naquele ano da revolta da Chibata/ a sua vida foi de notas musicais / seus lindos sambas animavam carnavais / brincava em blocos com boêmios e mulatas, / subia morros sem preconceitos sociais.” Martinho da Vila, samba enredo da Vila Isabel de 2010.
Aqui subentendemos se tratar de Noel Rosa, por sabermos extratextualmente que o compositor foi tema da escola de samba no ano citado. Repare que em nenhuma parte foi citado o nome do artista.
COESÃO SEMÂNTICA
1) Sinonímia – Utilização de vários vocábulos de significados muito próximos para se referir a um mesmo “objeto”.
EX: “Uma nave espacial particular atingiu uma altitude de mais de 64 km em um teste realizado no estado (...) da Califórnia. A aeronave, chamada SpaceShipOne, foi projetada com o objetivo de levar um prêmio de US$ 10 milhões que está sendo oferecido à primeira empresa privada que levar um veículo ao espaço. Para conquistar o prêmio, no entanto o veículo espacial precisa alcançar a altitude de 100 km duas vezes em um período de três semanas.”
2) Campo semântico – Emprego de termos que pertencem a um mesmo “universo” de sentidos, não necessariamente sinônimos. Esses vocábulos pertencem a um mesmo contexto discursivo.
EX: “Se perguntarem qual a carreira mais disputada no vestibular da UFRJ, dá para responder sem pensar: medicina (com 33 candidatos por vaga).
  • Como elementos de coesão, temos os conectivos, que são palavras que ajudam na manutenção do texto, estabelecendo vínculos semânticos específicos. Os principais conectivos são:
1. Prioridade: em primeiro lugar, antes de mais nada, sobretudo, acima de tudo, primeiramente, principalmente, primordialmente.
2. Tempo: então, enfim, ao mesmo tempo, por fim, agora, finalmente, logo, imediatamente, após, a princípio, hoje, freqüentemente, constantemente, ocasionalmente, eventualmente, raramente, sempre, enquanto isso, atualmente.
3. Finalidade: para, propositalmente, a fim de, no intuito de, com o propósito de./
4. Contraste: exceto, mesmo que, mas, porém, no entanto, entretanto, contudo, todavia, embora, apesar de, mesmo que, ainda que, pelo contrário.
5. Comparação: igualmente, da mesma forma, semelhantemente, similarmente, assim também, do mesmo modo, de acordo com, segundo, conforme.
6. Adição: e, não só... mas também, tanto ....quanto, não apenas... como também, além disso, por sua vez, também.
7. Continuidade: nesse sentido, nessa direção, nessa perspectiva, nessa direção.
8. Relativização: aparentemente, talvez, provavelmente, possivelmente, não é certo, em parte, muitas vezes.
9. Certeza: por certo, com certeza, inquestionavelmente, na verdade, sem dúvida, de fato, certamente, inegavelmente.
10. Esclarecimento: isto é, quer dizer, em outras apalavras, ou seja, ou por outra, ou por melhor.
11. Causa: devido a, na medida em que, já, porque, pois, por, em virtude de, em função de.
12. Conclusão: portanto, por conseqüência, por conseguinte, assim, por isso, com isso, dessa forma, dessa maneira, desse modo, como resultado, enfim, assim, em suma, em síntese, em resumo.
– Coerência
Para compreendermos o que nos dizem e para fazermos com que as pessoas que nos ouvem ou lêem nos entenda, precisamos ajustar constantemente nossas expressões textuais aos de nossos interlocutores a fim de dar um sentido lógico para a produção do texto. A coerência é o elemento textual que trata do encadeamento lógico entre as ideias contidas na redação. Em parte, ela depende da coesão, que contribui para a inteligibilidade do que está sendo escrito. Um texto bem coeso gramaticalmente ajuda a compreender mais claramente a linha de raciocínio estabelecido por quem está escrevendo. No entanto a coesão não é o fator único que torna o texto coerente. A coerência é principalmente semântica e contextual. Para a construção dessa característica, nós podemos enumerar alguns fatores relevantes.
1 – Conhecimento linguistico, que pressupõe um saber sobre estrutura gramatical e significado das palavras. O emprego de um conectivo em um certo enunciado ou a colocação de um vocábulo que não tem nada a ver com o contexto apresentado pelo texto atrapalham bastante a coesão e torna o texto incompreensível.
2 – Conhecimento de mundo. Conhecimento geral de tudo aquilo que nos cerca, dos acontecimentos, dos lugares, dos momentos, das causas e consequencias. Quem escreve um texto, de uma forma ou de outra, introduz na sua produção aquilo que acumulou em termos de conhecimento geral e a forma como ele vai expor o seu entendimento daquilo que ele conhece.
3 – Conhecimento partilhado. Individualmente, cada um possui apreende e acumula o saber de formas distintas. Essa afirmativa é perfeitamente aplicável para quem emite (emissor) uma mensagem (texto) e para quem o recebe (receptor, leitor). Por isso, é necessário que se escreva aquilo que seja de comum saber entre ambos. Isso evita que o texto possua muitas explicações e torne cansativa a leitura do texto. É necessário um equilíbrio entre aquilo que é de conhecimento comum e o que é novidade para o leitor. Introduzir uma informação nova a partir do que é conhecido.
4 – Esse conhecimento partilhado vai ao encontro da informatividade. Esse fator se baseia em certos pressupostos por parte do emissor do texto em relação ao receptor. Um crítico de literatura ao escrever um artigo especializado, parte do princípio de aquele que o lê já conhece certas informações básicas que são desnecessárias serem expostas. Caso contrário, o texto fica redundante. E os leitores se sentirão ofendidos.
5 – Intencionalidade e aceitabilidade. A primeira diz respeito aos recursos utilizados por quem escreve o texto para alcançar seus objetivos. A aceitabilidade, relacionada ao receptor (leitor), é a capacidade de julgar o texto quanto a sua coerência.
6 – Consistência e relevância. Consistência nada mais é do que a ligação consistente, pertinente entre as ideias. Elas não devem, com esse princípio, se contradizer. Relevância diz respeito ao pertencimento das ideias expostas ao tema proposto.
Exercícios
1. Junte os pares de orações abaixo, de tal forma que entre elas se estabeleça a relação indicada. Faça as alterações que forem necessárias.

Relação de concessão

a) Seu trabalho não foi aceito.
As explicações foram boas.


Relação de finalidade

b) Resolvemos ficar em casa.
Assim poderíamos descansar.


Relação de concessão

c) Houve vários imprevistos durante a viagem.
Tudo foi cuidadosamente planejado.


Relação de proporção

d) Ele crescia.
Ele ficava mais magro.


Relação de comparação

e) Ele era estudioso.
Todos os outros alunos da turma eram estudiosos.
Relação de tempo
f) Meus amigos vieram me visitar.
Cheguei de viagem




Snooker


Certa vez eu jogava uma partida de sinuca e só havia a bola sete na mesa. De modo que mastiguei-a lentamente saboreando-lhe os bocados com prazer. Refiro-me à refeição que havia pedido ao garçom. Dei-lhe duas tacadas na cara. Estou me referindo à bola. Em seguida saí montado nela e a égua, de que estou falando agora, chegou calmamente à fazenda de minha mãe. Fui encontrá-la morta na mesa, meu irmão comia-lhe uma perna com prazer e ofereceu-me um pedaço:
"Obrigado" disse eu, "já comi galinha no almoço".
Logo em seguida chegou minha mulher e deu-me na cara. Um beijo, digo. Dei-lhe um abraço. Fazia calor. Daí a pouco minha camisa estava inteiramente molhada. Refiro-me à que estava na corda secando, quando começou a chover. Minha sogra apareceu para apanhar a camisa. Não tive remédio senão esmagá-la com o pé. Estou falando da barata que ia trepando na cadeira.
Malaquias, meu primo, vivia com uma velha de oitenta anos. A velha era sua avó, esclareço. Malaquias tinha dezoito filhos, mas nunca se casou. Isto é, nunca se casou com uma mulher que durasse mais de um ano. Agora, sentado à nossa frente Malaquias fura o coração com uma faca. Depois corta as pernas e o sangue vermelho do porco enche a bacia.
Nos bons tempos passeávamos juntos. Eu tinha um carro. Malaquias tinha uma namorada. Um dia rolou a ribanceira. Me refiro a Malaquias. Entrou pela pretoria adentro arrebentando a porta e parou resfolegante junto do juiz pálido de susto.Me refiro ao carro. E a Malaquias.


In Millôr Fernandes.Trinta anos de mim mesmo. São Paulo: Abril Cultural, 1973.

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